O primeiro pensamento que lhe vinha à cabeça era de como tudo, por mais estranho que fosse, era perfeitamente normal.
Se já não tivesse perdido a conta estava ali a pelo menos nove meses, o que era engraçado, pois lembrava o tempo de gestação de uma pessoa comum. Não que ela já tivesse estado grávida, ou que não fosse uma pessoa comum, mas, muitas vezes, os outros faziam com que se sentisse estranha, diferente, e fora do mundo ao qual devia pertencer.
Este era o problema de se morar numa montanha: se não te aceitam, para onde pode ir?
Não que ela não tenha tentado. Anos a fio trabalhou nas estufas, tentando parecer com todo mundo, rir como riam, contar histórias como contavam, viver, simplesmente, como viviam. Mas as cores não ajudavam muito. Sempre as cores. E sua mania de falar sobre elas.
Júlia não entendia como as cores podiam aparecer em lugares tão insólitos. Claro que ela admirava a brancura da neve, o amarelo pálido do sol, e o alegre mar de cores que surgia diante de seus olhos no interior das estufas, mas não conseguia atinar com o por que de uma conversa maldosa ser vermelho vivo, de um sussurro conspirador ser negro, de uma palavra amigável ser branca.
Lembrava-se bem da cor das palavras d’Ele naquela noite. Eram do vermelho mais vivo que já vira, seus olhos marejaram no mesmo instante, e ela soube que algo de muito ruim iria acontecer.
Duas batidas na porta a trouxe de volta à realidade. Pouco depois uma voz, forçosamente agradável, disse:
- Júlia, querida, é hora de tomar seus remédios.
Vim conhecer esse teu blog e me encantei do modo que escreves. Lindo! abraços,chica
chica
4 de janeiro de 2010 às 05:55Chica,
Muito obrigado, espero que volte.
Abraços.
Luciano A. Santos
4 de janeiro de 2010 às 08:20Isso me lembra sinestesia... Vou ler o próximo. Faz tempo que não venho aqui.
Beijos!
Marina
20 de janeiro de 2010 às 15:16Marina,
Depois de ler também pensei em sinestesia. Estas Crônicas estão ganhando vida própria, rsrs.
Beijos.
Luciano A. Santos
21 de janeiro de 2010 às 02:15Pobre Julia, se sentir inadequada é sempre um tormento!!!
Pandora
22 de julho de 2012 às 11:50