Pela vidraça ela conseguiu ver que ele estava lá. Sempre estava, todos os dias, do começo da manhã até o início da noite
Samuel perdera o filho haviam mais de vinte anos, mas desde então se dirigia ao mesmo lugar e lá ficava, quase sem se mover, como que esperando que um milagre trouxesse seu garoto de volta. Com o tempo as pessoas se acostumaram com sua presença ali, na grande entrada da mina, e desviavam dele, balbuciando tímidos cumprimentos, alguns tocando levemente em seus ombros, e seguindo seus caminhos de cabeças baixas partilhando com aquele pai desesperado toda a dor que pode haver no mundo.
Ninguém em toda a montanha era capaz de dizer ao certo quando fora a última vez que ouvira Samuel pronunciar uma palavra sequer. Alguns diziam que ele não falara mais nada desde a perda do filho, outros juravam que ouviram, pouco tempo depois, ele gritar alucinado para dentro das profundezas da mina o nome de seu "pequeno". O fato é que ele permanecia todos os dias ali, tal qual uma estátua, como um rascunho humano, à espera de alguém que sabiam que não voltaria mais.
No fim da tarde, já quase noite, viam-no se dirigir para sua casa, na Alameda do Conde. Ao entrar pela porta, era como se desaparecesse para o mundo. Nenhuma vela era acesa, nada se ouvia. Pouco a pouco a névoa descansava sobre a terra, e não se falava ou se pensava mais em Samuel. Era apenas mais um triste entardecer para aquele rascunho de homem.
Adoro essas crônicas soltas. Fico pensando se serão uma grande história depois.
Beijos!
Marina
9 de novembro de 2009 às 11:00Marina,
Ainda há muito o que se dizer sobre a Montanha da Neblina, mas me falta tempo.
Beijos e obrigado por acompanhar.
Luciano A. Santos
10 de novembro de 2009 às 03:55